Monday, March 19, 2007

II · O momento

Tinha seguido o meu caminho errante. A minha viagem.

O tempo era incerto – aquele que já tinha passado e o outro que ainda viria – mas ao longe já conseguia antever o momento em que teria de escolher. O tempo até lá chegar era incerto, tão incerto como o caminho que iria escolher.

Contudo não era a incerteza do tempo nem do caminho que me preocupava. Sentia-me receosa com a eventualidade de não conseguir discernir o momento.

E não conseguia afastar esse pensamento: "Saberei quando chegar o momento? Existe um momento certo para escolher?"

Sunday, March 11, 2007

I · O caminho de cada um...

Deslocava-me lentamente num percurso errante. Sentia demasiada poeira a ofuscar-me a visão e, por mais que olhasse em meu redor, não estava certa do caminho que deveria escolher!

O deserto árido de uma constelação desamparada?
A floresta frígida de um planeta desconhecido?
A montanha inóspita onde medita o sábio guru?

Pensei: "Mais... tem de existir mais, muito mais... uma descoberta infinita!"

Avistei, ao longe, um viajante do cosmos que se deslocava muito convicto e apressado. Ao passar perto de mim abrandou o passo e o seu rosto iluminou-se com um largo sorriso. Julgando-me perdida estendeu a mão para indicar o caminho.

Por segundos hesitei... depois sorri timidamente e afastei-me.
Não conseguia encontrar o caminho, contudo não estava cega:
"O meu caminho não é o teu caminho!" – afirmei com serenidade.

Segui noutra direcção, no meu percurso errante, pensando:
"Porque é que ao longo da vida somos constantemente seduzidos a seguir uma viagem que não é a nossa!?"

Thursday, March 08, 2007

O sol regressou...

Uma inundação de luz esta manhã. Que saudades. Céu azul e sonhador. A pele absorve os raios com a avidez de um deserto.
O coelho gigante está a ser removido. Chega a Primavera, foge o coelho e regressa a andorinha (sim, é uma referência ao Borda d'água).

Quero ir correr para o jardim, rebolar na relva. Mergulhar no mar e sentir a areia nos pés. E perder-me no horizonte...

Tuesday, March 06, 2007

Flashback

Quem se esconde por detrás destas duas janelas, quem procura um significado do fundo deste poço? De quem é o medo que invade, traiçoeiro, na noite fria, o frágil veículo?
Em que madrugada o primeiro de nós foi amaldiçoado com a consciência da sua mortalidade? Com a infinita frustração de sentir o fim próximo e sem respostas. A fuga? Violência, conquista, dominação.

A energia que me anima traz consigo milénios de morte, procriação, dor... E um eterno deslumbramento perante a oportunidade, o acaso que a tornou possível. Será a angústia que sinto uma longínqua memória da total incerteza vivida pelas primeiras estrelas?
Estou certo que o prazer que tenho em viver transcende este pequeno e mesquinho mundo que habito.

Há esperança... A viagem só agora começou.